10 de julho de 2010

O CASAMENTO E A SOLIDÃO CRIATIVA

O poeta Rilke escreveu que "o companheirismo entre duas pessoas ...priva um ou ambos os parceiros de sua liberdade e desenvolvimento mais completos". Ele acreditava que "uma vez que se aceite que mesmo entre os seres mais íntimos continuem a existir infinitas distâncias, passa a ser possível desenvolver uma maravilhosa convivência , um ao lado do outro", tendo essa distância entre eles "como um pano de fundo, um imenso firmamento, contra o qual enxergarão o outro por inteiro !" Assim , em sua visão, que foge ao convencional, "bom casamento é aquele que cada um dos dois nomeia o outro como guardião de sua solidão"

Em solidão, podemos trancar o mundo para fora e ficar face a face com nossas necessidades e sentimentos mais profundos. Podemos pensar melhor, mais a fundo, podemos reagrupá-los , nos recuperar de nossas decepções e mágoas, cicatrizar nossas feridas. A solidão pode servir como nosso refúgio, onde rebuscamos em nosso interior o espaço que nos permita descobrir e desenvolver novas faces de nós mesmos. Conforme Anthony Storr aponta, em seu profundo livro Solidão, até o melhor dos relacionamentos tem defeitos ;portanto, poderíamos ser menos exigentes com nosso casamento ( e consequentemente, menos insatisfeitos com ele ) se procurássemos - por intermédio do uso criativo da solidão - fontes suplementares de realização

A solidão nos permite viver uma parcela de nossas vidas à parte de nossos parceiros. Da mesma forma que ocorre com outros tipos de separação , ocasiões em que escolhemos usar o nosso tempo livre ( por exemplo, quando as crianças são mais crescidas ) para trabalhar fora, para fazer trabalho voluntário, visitar um amigo ou fazer um curso de arte.

Viver junto cotidianamente, com um mínimo de dignidade, exige, dentre muitos outros requisitos, encontrar o equilíbrio entre companheirismo e isolamente. Ser honesto, sem exagerar na dose. Ficar à vontade, solto, autêntico , sem ser desleixado. Também aceitar a incessante marcha rotineira da vida conjugal, percebendo paralelamente , quanto ela é doce, quanto é muito doce, quanto é incrivelmente doce.

Trecho retirado do livro: CASAMENTO PARA TODA A VIDA, de Judith Viorst

7 de julho de 2010

NOSSO SENTIDO DE UTILIDADE

Nossas relações humanas são fortemente marcadas pelas regras da utilidade. Somos o que fazemos. Boa parte do nosso tempo é investido em nosso aprimoramento técnico, profissional. Coisas que estão ligadas ao nosso desempenho como profissionais.


O grande problema não é investir no aprimoramento técnico, mas sim em não saber viver as transições naturais do processo da vida. Não seremos eternamente jovens, competentes e úteis. Haverá um momento em que alguém nos substituirá, porque cumprirá melhor as exigências do que fazemos.


Chegará o momento em que teremos que sair de cena. É nesta hora que precisamos assumir uma outra forma de competência. Teremos que lidar com nossa inutilidade e esbarrar em nossa humanidade, sem os atrativos de tudo o que foi útil em nós.


Será o tempo de redescobrir os significados antigos, as coisas para as quais não tivemos muito tempo , mas que condensam possibilidades bonitas que precisamos explorar.


Quando pautamos nossa vida a partir de nossa utilidade, corremos o risco de nos desprender de nossos verdadeiros significados. É muito comum as pessoas se ocuparem de constantes aperfeiçoamentos técnicos. Mas é raro encontrar pessoas cuidando do futuro a partir de outras preocupações, como o cultivo de laços fecundos .


Precisamos, ao longo da vida, fazer-nos a pergunta cruel : Depois que perdermos a utilidade, quem vai querer continuar ao nosso lado ? Será que estamos bem posicionados entre os horizontes da utilidade e os horizontes do significado ?


Texto retirado do livro : QUANDO O SOFRIMENTO BATER A SUA PORTA