19 de maio de 2010

O ALTO CUSTO DE AMAR

Muitos vivem com a crença de que "as melhores coisas da vida são gratuitas". Eu ,particularmente, tive experiências suficientes para aprender que algumas das melhores coisas da vida são dolorosamente caras. Geralmente, parece que as recebemos de presente, mas elas contém um preço invisível. O amor é uma delas. Nós, que perdemos entes queridos, aprendemos com nosso pesar que pagamos um preço enorme pelo amor que deixamos fluir.Pagamos com a moeda da dor: sentindo falta, saudades. Dói muito . A verdade mais amarga é que cada história de amor tem um final triste e, quanto maior o amor , maior será a tristeza quando ele termina. Quando amamos colocamos um refém nas mãos da sorte. Quando nos permitimos gostar de alguém, tornamo-nos vulneráveis à angústia e à desilusão. Qual é nossa opção , afinal ? Não devemos permitir-nos amar ninguém ? Nunca deixar que alguém seja importante para nós ?Negar-nos a maior das alegrias outorgada por Deus ?

E, inclusive , pode-se agregar mais uma consideração . Se um anjo viesse até nós no momento de dor mais profunda e se oferecesse para nos livrar de todo o sofrimento e melancolia , mas também de todas as nossas lembranças do passado e das aventuras que compartilhamos, aceitaríamos o acordo ? Ou consideraríamos essas lembranças tão valiosas , tão infinitamente queridas , que a guardaríamos em nosso coração e recusaríamos comprar o consolo imediato pagando o preço de cedê-las ?


Uma antiga lenda grega faz referência a essa escolha. Fala de uma mulher que foi ao Rio Estige onde Caronte, o balseiro gentil , estava pronto para levá-la a região dos mortos.O homem lembrou-a de que tinha o privilégio de beber a água do Letes, e se o fizesse, ela se esqueceria completamente de tudo o que deixava pra tras.
Ela respondeu ansiosa: "Esquecerei tudo o que sofri". E Caronte objetou :"Mas lembre-se de que também se esquecerá das alegrias". A mulher respondeu : "Esquecerei os meus fracassos". O velho balseiro completou : "E também das vitórias". Ao que ela retrucou :"Esquecerei o quanto foi ferida". "E também o quanto foi amada".

Então a mulher parou para ponderar com cuidado a situação . A história termina nos revelando que ela não tomou a a água do Letes. Preferiu manter suas recordações, mesmo as de dor e sofrimento, em vez de abrir mão das alegrias e amores. Alguém escreveu que "quem não sofreu não foi humano" . A dor passa, as recordaçoes permanecem ; os seres amados partem , mas o sentimento de tê-los tido perdura . E somos muito mais ricos por termos arcado com o alto custo de amar.

Marcelo Rittner

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